sexta-feira, 30 de março de 2007

Ondas de mudança

No Reino Unido os quatro maiores operadores turísticos estão em vias de se consolidar para formarem dois gigantes, pendente apenas de aprovação pelas entidades reguladoras. A First Choice do Reino Unido vai se consolidar com a Thomson que é propriedade da Alemã TUI para formar a TUI Travel. Num outro negócio independente no mês passado, a Alemã Thomas Cook anunciou que se iria consolidar com a Inglesa My Travel.

Num comunicado conjunto das duas primeiras foi dito que “O ambiente das viagens de lazer mudou significativamente durante os últimos anos visto que os consumidores exigem flexibilidade e escolha, procuram novas experiências de vida e tentam aceder a conteúdo sobre viagens através de diferentes pontos de venda, mais notavelmente a Internet.”

Indústria do Turismo

A indústria mudou significativamente num curto espaço de tempo guiado por dois grandes factores: a Internet e as companhias aéreas de baixo custo, segundo Andrew Windsor, ex-director gerente da distribuição da Thomas Cook. Os vianjantes, mesmo quando em família, cada vez mais preferem marcar os seus voos e reservar os seus hotéis individualmente do que comprar tudo num pacote preestabelecido. “Ir a Espanha ou às Ilhas Canárias já não é nenhum mistério. As pessoas ficam contentes por marcar os seus próprios voos e desenrascarem-se no destino”, segundo Jerry Skidmore. “É cada vez mais difícil fazer um bom lucro a vender um pacote de viagem. As firmas têm tido que cortar nos preços para vende-los, mas os preços tornaram-se ridiculamente baixos”.
Segundo a BRMB, empresa Britânica de estudos de mercado, as vendas dos pacotes de viagens caíram 14% em quatro anos. Tendo em conta que a indústria do turismo tem estado em expansão nos últimos anos, isto demonstra como os pacotes têm perdido quota de mercado significativamente.
O advento das companhias de baixo custo abriu o caminho a novos destinos na Europa e além disso removeram as agências de viagens da equação de planear uma viagem. Estão agora mais facilmente acessíveis destinos considerados mais exóticos como por exemplo os países da Europa do Leste.
O novo consumidor é mais entendido na Internet e procura orientação em sites de comentários de outros viajantes como o TripAdvisor em vez de nas brochuras promocionais, reconhecendo estas como um instrumento de vendas – no entender de John Lennon da Glasgow Cadelonian University.

Fusão da First Choice e da TUI

Um porta-voz da First Choice disse que as companhias se ajustavam bem estrategicamente porque a companhia Inglesa está focada em férias de actividades e turismo especializado enquanto que a TUI tinha construído uma maior base de clientes baseada em pacotes de baixo custo. Ambos os operadores sofreram grandes quebras nos lucros do último ano. A fusão vai gerar poupanças na ordem dos 100 milhões de libras por ano – equivalente a cerca de 147 milhões de Euros. São esperados milhares de despedimentos apesar de estes ainda não terem sido anunciados.
Sinergias de custos podem ser alcançadas em oito áreas: consolidação do retalho, call centers e custos administrativos; distribuição optimizada (incluindo das lojas); maior tráfego na Internet; custos reduzidos
comerciais e de marketing; planeamento e operação de voos -a First Choice tem 34 aviões e a TUI tem uma frota de 127 aviões -; eficiências de custos de destinos, e melhor rendibilidade.
A TUI Travel vai focar-se em quatro áreas: conteúdo, distribuição, competitividade nos custos e aquisições dentro de segmentos especializados. A TUI espera também utilizar a perícia da First Choice em mercados especializados nalguns dos seus principais mercados Europeus como Alemanha, Suécia, França e Bélgica.

O futuro dos operadores turísticos e das agências de viagens

Vai continuar a existir um futuro para os operadores turísticos mas estes têm que se adaptar às novas realidades do mercado. As áreas de maior crescimento são as do turismo especializado. Este pode ser de actividades ou desportos, turismo de aventura, turismo cultural, turismo rural, turismo de experiências, expedições para destinos mais longínquos, entre outros. O número de lojas de agentes de viagens vai reduzir significativamente ao longo dos anos, e a presença na Internet é cada vez mais fundamental.
Existem clientes mais tradicionais que irão continuar a preferir as agências de viagens por certo, mas este número vai-se reduzindo. É importante que as agências permaneçam abertas em horários pós-laborais e aos fins-de-semana segundo Bill Munro, fundador da maior agência de viagens independente do Reino Unido – a Barrhead Travel. Acrescenta também que o sucesso das agências depende de quão rápido de deslocarão do modelo de férias de 7 e 14 dias para um modelo mais flexível.

Uma clara vantagem das agências com presença física é o contacto humano. Com este vem a possibilidade de comunicar directamente com alguém especializado em viagens, apesar de existir sempre o outro lado da moeda… basta imaginar falar com um vendedor de automóveis. Na nossa opinião o que as agências precisam realmente de fazer é explorar ao máximo as vantagens deste contacto humano. É o que as diferencia das outras fontes de informação e serviços de reservas existentes, especialmente a Internet. Uma agência que se limite a disponibilizar preços e pacotes de viagens é facilmente substituída por uns clicks na internet.

Os ventos sopram e as mudanças acontecem. O projecto que estamos a criar quer fazer parte desta mudança e prosperar na nova realidade que vai aos poucos emergindo.

Boas viagens e até breve.

Tomás Abecasis

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